Ernani Aguiar – Cantilena
“Na várzea o vento vai varrendo e carregando
antigos cantos de tristeza ali caídos.
Não sei de onde eles vieram, se perdidos,
ou se trazidos pelo mesmo vento brando.
O vento, cúmplice dos rasgos e dos gritos
nessa paisagem que adormece docemente,
são os tecidos estampando nossas mentes
feitos de linhas coloridas e em conflito.
O canto é o vento errante forte e frio,
toque transformado de uma lágrima a rolar.
Quando um elemento vira noutro – água em ar?
é quando o nosso pensamento corre em rio. Varre o vento a voz da mata, som aflito de outras eras, vindo em eco, dor deveras que em sussurro se resgata.
Sussurra a mata o que sobrou do triste canto,
e no sussurro tal tristeza vai embora
pois sai a dor jogada fora pelo pranto,
e, no encanto – é o puro amor.”